Dando Nota

Rodrigo Alves

Democracia em Vertigem

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Parece uma engenharia do acaso o lançamento de “Democracia em Vertigem”, documentário de Petra Costa pela Netflix, na mesma semana em que Sérgio Moro, o super-ministro do atual governo, é chamado a dar explicações ao Senado sobre seu modus operandi como então juiz da Lava Jato, operação responsável, entre tantas coisas, pela prisão do maior líder político do país, Luis Inácio Lula da Silva.

Se tivesse vindo em outro contexto, qualquer direitazinha de meia tigela já iria: esse assunto é velho, superem, tiramos Dilma do poder e Lula está preso! Se conformem, suas trouxas!

Embora não presentes ou citados no documentário, os vazamentos dos diálogos revelados pelo jornal The Intercept entre Sérgio Moro e o o procurador Deltan Dallagnol são o que mais comprovam a narrativa de um golpe, sim, senhores!

Petra chega com seu documentário no melhor momento. Na hora oportuna. Seu recorte sobre os acontecimentos coloca tudo em uma perspecttiva fácil de ser visualizada, até mesmo pelos mais cegos, ao passo que o assunto volta à tona no noticiário nacional e internacional, desta vez com Moro não tanto no papel de super-herói. “A história vai te julgar”, diz uma das chamadas do documentário. Frase mais que perfeita, agora, para Moro e sua trupe!

Vertigem é justamente o sentimento que me desperta nas pouco mais de duas horas de documentário. Em várias cenas você fica zonzo, até que respira fundo e, no quadro seguinte, está novamente enxugando as lágrimas.

Não é nada fácil digerir, em um recorte tão preciso, tantos algozes e o resultado de tanta tramoia. Gente como Aécio Neves, Janaina Pascoal, Romero Jucá, Eduardo Cunha (responsável por montar a estrutura do Golpe) e Aécio (pó pô pó?) Neves.

Para alguém que vibrou nos corredores da universidade a eleição de Lula, no auge dos 19 anos, ouvir a voz de Petra soa como um alento. A jovem diretora é de um didatismo inigualável ao mostrar como, em pouco tempo, houve a divisão do país em dois e de que forma a democracia se despedaçou.

Como uma grande linha do tempo de acontecimentos recentes, Democracia em Vertigem retrata a frieza e a incapacidade política dos deputados que votaram o impeachment de Dilma, figuras mitológicas como Paulo Maluf, e, ao mesmo tempo, permite que a esquerda reflita sobre sua principal incapacidade: a de dialogar e a de tapar os olhos para o crescimento da extrema direita, a exemplo da bancada BBB (boi, bala e bíblia).

A voz de Petra, no entanto, pode ser vista como vitimista. Pois, sim, sua linha narrativa é tão somente o que a esquerda quer ver e ouvir: a legitimação de que o impeachment de Dilma Rousseff foi um produto de tramoia com amplo apoio midiático, a prisão de Lula foi um grande acordo nacional (com o Supremo, com tudo) e a eleição de Jair (o Messias) Bolsonaro veio como ato final para coroar o que chamamos de Golpe.

Mais do que um filme sobre vazamentos, Democracia em Vertigem desnuda o ex-juiz todo poderoso, tira de suas costas a beca de semideus, ainda que sejam poucos os momentos em que Moro é personificado ou citado nas cenas do documentário.

Democracia em Vertigem é um registro necessário para as pessoas idealistas, que ainda procuram “uma estrela aparecer… na manhã de um novo amor”, como bem diz os versos de “Canto de Ossanha”, já nos créditos finais.

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Publicado às 21 de junho de 2019 por em Opinião e marcado , .

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